(Livro em construção) - CONTINUAÇÃO ...
1. RAÍZES
1.5 Vida e Obra de Myrddin Thomas
Por Eva Mills
(Do Livro "Em Lugar do Espinheiro" - Usado com autorização pela MICEB)
"Porque nós somos para com
Deus o bom perfume de Cristo" (2 Co 2:15).
Havia
já alguns meses que Myrddin Thomas e sua família estavam morando no interior do
Maranhão, trabalhando como evangelista. Para conquistar a confiança do povo de
Pedreiras, uma cidadezinha ribeirinha que em 1940 estava se desenvolvendo rapidamente,
ele lançou mão de seus conhecimentos de medicina caseira. Não havia médico na
região, e dessa maneira Myrddin Tomaz estava sempre ocupado visitando os
doentes, tratando aqueles que padeciam de malária e outras febres, ensinando
aos pais como cuidar de seus filhos e dando conselhos médicos sempre que podia ser
útil.
Frequentemente
andava de casa em casa, dentro e fora da cidade, montado em um burro, para
poupar tempo e energias. Em todo lugar ele encontrava oportunidade para
testemunhar de Cristo. Ao voltar à tardinha, Myrddin Tomaz mandava o jovem
empregado tratar do burro, banhando-o, dando-lhe milho, e deixando-o passar a
noite junto com os animais da vizinhança um pouco fora do povoado. Cada animal
usava um chocalho e ficava peado com maniotas para não se distanciar muito.
Assim era mais fácil achar os animais na madrugada. O empregado de Tomaz era
fiel, estava satisfeito com seu trabalho e respeitava o evangelista.
Entretanto,
o homem mais influente da cidade não era crente. Na verdade, não via com bons
olhos a presença de Myrddin Tomaz na cidade, embora reconhecesse que seu
trabalho com os doentes era muito apreciado e que, em geral, ele era muito
querido pelo povo.
Pedreiras,
situada às margens do rio Mearim, não podia se orgulhar de possuir ruas
calçadas, mas algumas casas, na rua que dava de frente para o rio, eram construídas
com decorativos tijolos coloridos. Aqui e ali, ao longo dessa rua, grupos de comerciantes
se reuniam em frente de lojas ou de suas casas discutindo os acontecimentos
mais recentes. O rico comerciante que não simpatizava com Myrddin Tomaz era um
desses, e assim todos estavam cientes de sua atitude para com Myrddin Tomaz. O
próprio evangelista estava a par disto, e muito lamentava a antipatia deste
homem, cuja amizade tanto desejava conquistar.
Certa
tarde, o burro de Myrddin Tomaz invadiu o pasto do rico comerciante por uma
abertura na cerca. Quando foi encontrado na manhã seguinte, o burro foi
severamente castigado a mando do comerciante para demonstrar o desagrado que
sentia por Myrddin Tomaz. E agora, o que faria Tomaz? Esta era a pergunta que todos
faziam ali, inclusive os homens reunidos na rua do rio. O povo esperava
atentamente para ver qual seria a atitude tomada pelo homem a quem tinham
aprendido a amar.
Eles
o observaram indo de casa em casa, tratando dos doentes, ajudando os
necessitados, levando-lhes palavras reconfortantes que tirava da Bíblia que
sempre levava consigo. Eles se maravilhavam ao ver sua atitude, pois não tocava
no assunto do burro, mas limitava-se a falar sobre os remédios que poderiam ajudar
os doentes. Ao chegar em casa, cansado do dia trabalhoso, ele tratava os
ferimentos no lombo, cabeça e pernas do seu burro. Com descanso e muito cuidado
o burro começou a se recuperar vagarosamente.
Por
muitos dias Tomaz não podia usá-lo em suas viagens, mas apesar de toda a
inconveniência ele não disse sequer uma palavra de queixa contra o rico
comerciante. O acontecido tinha sido uma dura provação para Myrddin Tomaz, mas
ele encontrou sabedoria e orientação no Senhor para enfrentar aquele homem, que
descarregara seus sentimentos sobre o animal. Quando Myrddin Tomaz voltou a
montar seu burro, agora apenas mostrando cicatrizes, o povo saía à rua para cumprimentá-lo,
admirado de sua paciência. Mas o descontentamento do rico comerciante em
relação a Tomaz ainda era bastante evidente.
Tomaz
orava constantemente pedindo a ajuda de Deus, pois sabia que se fosse deixado
só, reagiria com violência, como costumava fazer antigamente, antes de ter
conhecido a graça de Deus. Versículos bíblicos tais como: "Ele não
permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda" (Salmo
121:3), tornou-se para ele duplamente preciosos nesta hora de tentação. Myrddin
Tomaz e a pequena congregação de crentes logo viram a resposta de Deus às suas
preces na hora da provação.
Naqueles
dias o rico comerciante ficou doente com febre alta. Ele precisava de ajuda,
mas se recusava mandar buscar a ajuda de Myrddin Tomaz. Ele estava muito envergonhado
pelo que havia feito. Dia após dia sua família e seus amigos insistiam para que
se consultasse com Myrddin Tomaz, mas ele continuou recusando. A febre, no
entanto não cedia, pelo contrário se tornou uma ameaça para sua vida.
Finalmente concordou e Myrddin Tomaz foi chamado com urgência para ir ajudar o
comerciante enfermo. Ele se se apressou a ir até lá, montado, é claro, no mesmo
burro que já havia se recuperado da surra. Confiado no Deus que o protege entrou na casa do
comerciante com sorriso nos lábios, conversou com o homem doente, medicou-o e ficou
em dedicada vigilância ao seu lado até que este superasse a crise. Myrddin Tomaz
nunca mencionara o burro. Sua dedicação e cuidado para o comerciante enfermo
conquistou a admiração de toda a cidade, e era o tópico mais importante nas
rodas de prosa daquela cidade e de outras circunvizinhas. A fragrância da vida espiritual
daquele servo de Deus se espalhou, venceu a oposição que se formara em
Pedreiras e foi a causa para que muitos aceitassem a mensagem do Evangelho.
Comerciantes
de Pedreiras chegaram a Codó, cidadezinha uns setenta quilômetros ao leste, e
enquanto esperavam a chegada do trem vindo de São Luís estavam almoçando e
conversando animadamente ao redor duma mesa estreita e comprida. Era um restaurante
dedicado a servir comerciantes e outros viajantes no estilo do interior. Em
1940 Codó não podia se orgulhar de possuir jornal publicado localmente. Os
comerciantes conversando ao redor da mesa estavam esperando o periódico de São
Luís que o trem trazia semanalmente. Lá fora, através da rua sem calçamento,
chegou vagarosamente o comboio de via férrea puxado por locomotiva à lenha. Os passageiros,
principalmente comerciantes de Coroatá e São Luis apressaram-se a chegar ao
restaurante, onde pratos cheios de arroz com carne e feijão esperavam os
esfomeados, que podiam se satisfazer com abundância.
Enquanto
os recém-chegados enchiam seus pratos com a comida bem temperada. Um dos comerciantes
de Pedreiras, que tinha acabado de comer antes do trem chegar, estava dando as
últimas noticias de sua cidadezinha natal. Ele estava explicando que atualmente
Pedreiras era uma cidade progressista, com muito movimento, o que atraiu muitos
a curiosidade dos ouvintes.
Eva
Mills, passageira deste trem, sabendo que havia apenas uns trinta minutos de demora
antes da partida do trem para Caxias, para onde iam, saiu do trem calorento e foi
procurar um lugar na mesa de comida. O único lugar que achou ficou defronte do
comerciante que contava as novidades de Pedreiras, inclusive o interessante
incidente de Myrddin Tomaz e o comerciante rico. Myrddin Thomas era seu colega
de ministério e pertenciam a mesma missão, a Unevangelized Fields Mission
(UFM).
Depois
do almoço voltou ao trem, dando graças a Deus pelo que tinha ouvido sobre a
atitude cristã do meu colega e especialmente, por saber que o povo de Pedreiras,
inclusive o comerciante que fez tanta oposição, estava agora acolhendo o servo
de Deus. Certamente a fragrância de sua vida no serviço de Cristo espalhava-se,
como uma bênção, por todo o interior. "Porque nós somos para com Deus o
bom perfume de Cristo" (2 Co 2:15).
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