1.4 Joaquim Bina[1]
AICEB: Uma História de Amor.
(Livro em construção) - CONTINUAÇÃO ...
1. RAÍZES
Por Eva Mills
(Do Livro "Em Lugar do Espinheiro" - Usado com autorização pela MICEB)
"Assim brilhe
também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mt 5:14,16).
A
ruela estreita e de terra frouxa no vilarejo de São Domingos - Maranhão, não
era o único lugar escuro. Naquele povoado havia muita gente em cujos corações a
luz bendita do Evangelho nunca havia penetrado. Gente que nunca ouvira sobre a
libertação do poder das trevas. "Vós sois a luz do mundo," disse
Jesus a seus discípulos. "Assim brilhe também a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está
nos céus" (Mt 5:14,16). A mensagem dessa palavra viva do Senhor era a
razão porque um forasteiro solitário cantava à noite naquela rua estreita e
areenta. Ele tinha uns trinta e cinco anos de idade, tinha voz forte e
profunda, e cantava sobre Jesus, a luz do mundo. A luz trêmula de lamparinas
indicava o local das casas espalhadas pela área onde moravam as pessoas que ele
planejava alcançar com a mensagem do evangelho.
Ele continuava cantando hinos evangélicos referentes à
luz. As palavras eram claras, mas por enquanto não havia nenhuma indicação de
que o povo estava lhe dando ouvido. O luar bonito teria facilitado aos
interessados ver onde ele estava, mas a rua permanecia deserta. No entanto, de
dentro de sua casinha de palha, Margarida e seu pai estavam ouvindo. Eles
ficaram encantados com aquela voz tão agradável. Depois de ouvirem por algum
tempo, ambos saíram, receosamente, de casa para falar com o estranho.
Impressionados pela sua atitude amigável, eles o convidaram a entrar e explicar
a razão da visita na vila.
Noite
após noite Patrício cantava para número gradativamente maior de pessoas
interessadas e se tomava mais conhecido do povo. Trata-se aqui do mesmo
Patrício de Santa Luzia, instruído nas Escrituras pelo evangelista canadense
Perrin Smith, sob cuja direção ele viajava por muitas vilas perto e longe de
Grajaú, pregando a Palavra de Deus a grupos de lavradores interessados.
Margarida, que mostrou interesse pela mensagem desde que o ouviu pela primeira
vez, explicou a seu primo Raimundo, de quatorze anos de idade, o encontro que
tivera com esse homem de boa voz e ambos continuaram a ouvir Patrício
apresentar a Palavra da Vida. Raimundo ficou muito alegre quando Patrício lhe
deu um Novo Testamento. Ele correu para casa, mostrou o livro para sua mãe
Vitória e ela o ajudou a encontrar um lugar seguro para guardar o precioso
presente. Ela temia que seu marido se zangasse quando soubesse que seu filho
ganhara um Novo Testamento.
Vitória
tinha uma grande almofada de renda recheada de palha. A almofada tinha quase um
metro de diâmetro e era guardada num canto da cozinha. Sempre que terminava os
afazeres de casa, Vitória fazia renda, jogando bilros de mão a mão de modo tão
rápido que era difícil ver exatamente o que ela estava fazendo. O padrão era um
cartão com buraquinhos fixado ma almofada aonde ia metendo espinhos de
mandacaru ou alfinetes à proporção que a renda era tecida. Era na palha desta enorme
almofada que Raimundo escondia seu Novo Testamento. Quando Joaquim saía de
casa, Raimundo retirava seu livro do esconderijo e lia para sua mãe. Ao menor
barulho de patas de cavalo se aproximando, o Novo Testamento rapidamente
desaparecia para dentro da almofada.
Joaquim,
o pai de Raimundo era muito exaltado, especialmente após ter bebido cachaça, o
que era freqüente. Passava várias noites fora de casa em festas. Ele era o
animador-mor destas festas, ficando a música sempre ao seu cargo. Ele, também,
era músico e tocava nos bailes. Joaquim soube das reuniões feitas por Patrício
e havia proibido sua família de comparecer. E quando Raimundo o desobedeceu,
indo para os cultos, foi duramente surrado pelo pai. Daí por diante, Raimundo
esperava que seu pai saísse de casa primeiro e só depois ia às reuniões de
Patrício, que agora estavam sendo realizadas na casa de Margarida. Ali Raimundo
aprendeu muitas verdades sobre o pecado do homem; sobre o fato de que Deus
odeia o pecado; sobre a condição desesperançada do homem e sobre a graça
redentora de Cristo para com todos aqueles que o recebem pela fé.
As
surras de Joaquim não surtiam resultado porque Raimundo continuava freqüentando
as reuniões. No inicio de maio de 1921, Joaquim começou a planejar um meio para
impedir as idas de seu filho aos cultos. Há alguns quilômetros de distância, em
São Pedro do Gavião, Joaquim tinha uma roça onde plantava milho e arroz. Esta
roça ficava perto da casa de seu amigo Pedro Ferreira. Ele poderia mandar
Raimundo e seu irmão mais novo, Antônio, para lá com o pretexto de espantar as
jandaias que estavam estragando a roça. Pedro Ferreira era seu amigo há anos e
costumavam plantar juntos suas roças. Certamente não negaria o favor de ficar
com os garotos. Seus filhos brincavam sempre juntos por ocasião da colheita e
esse seria um bom lugar para ajudar Raimundo a se esquecer daquelas reuniões.
Assim pensava Joaquim, quando anunciou este plano para a família.
Raimundo
ficou muito triste com a decisão de seu pai. Ele queria saber mais e mais sobre
aquele Salvador que Patrício pregava. Agora que havia convertido sua vida a
Cristo, estava ansioso por ouvir mais sobre ele. Apesar de saber o motivo
porque seu pai o mandava para longe de casa, ele precisava obedecer. Vitória
ficou pensativa quando o filho Raimundo lhe disse, ao partir: "Eu vou por
meus próprios pés porque devo obedecer meu pai, mas não voltarei! Deus vai me
levar para o Céu." Será que a decepção do garoto era tão profunda que suas
palavras refletiam ressentimento? Ela ficou ali, observando os dois garotos
deixarem a casa, acenando "adeus." Vitória nunca se esqueceu da
ocasião. A caminho de São Pedro do Gavião, Raimundo contava a Antônio porque
ele estava tão interessado no que Patrício tinha lhe ensinado e nas lições que
aprendeu nas reuniões. O tempo passava rapidamente enquanto os meninos
conversavam sobre a razão porque o pai os estava mandando para a roça distante.
A
família Ferreira recebeu com carinhos os dois "filhos" extras. Eles
conversaram, riram e brincaram até a hora de armarem as redes para o descanso
noturno. Cerca de cinco horas da manhã seguinte Raimundo e Antônio, juntamente
com os filhos do casal Ferreira, saíram para o arrozal levando seus lanches e
fundas para espantar as jandaias. Uma hora antes do amanhecer ainda é muito
escuro na terra onde o sol tropical nasce toda manhã às seis horas. Era o fim
da estação das chuvas, momento quando as cobras emergem de seus esconderijos.
Os meninos sabiam disto e estavam prestando atenção. Durante um bom trecho o
caminho havia sido roçado e não era difícil ver por onde iam, o que não era o
caso nas proximidades da plantação. Mas, quando os meninos chegaram nesta parte
do caminho o dia já estava amanhecendo e era mais fácil ver onde pisavam. O
amanhecer estava chamando também as jandaias e os periquitos para o
quebra-jejum de milho e arroz na plantação.
A
roça de Chico Preto, também plantada com milho e arroz, era perto da roça de
Joaquim, onde os meninos passavam o dia espantando as aves. Chico Preto, muito
camarada, tinha uma choupana ali, onde passava o dia e podia ser de auxílio aos
meninos, em caso de necessidade. A presença dele naquelas redondezas fazia os
meninos menos preocupados e menos solitários. O combate entre meninos e
jandaias era incessante. Os meninos eram peritos com suas fundas, mas o milho
verde era tão atraente que as aves não o deixavam. Ao por do sol, quando as
jandaias voavam para seus abrigos noturnos, os meninos voltavam para a casa de
Pedro Ferreira, onde brincavam, comiam e dormiam.
Certa
manhã as jandaias barulhentas já estavam comendo milho quando os meninos
chegaram à roça. Eles subiram na cerca para evitar o perigo das cascavéis
famintas, escondidas no mato. A vegetação era densa nessa época. Vendo a
quantidade de periquitos na roça, Raimundo instintivamente pulou para o lado da
plantação a fim de espantá-la. Seu pulo súbito assustou uma cascavel que estava
escondida perto de um coqueiro babaçu. Logo Raimundo sentiu sua picada
venenosa. Ele gritou para os outros meninos que vieram correndo e mataram a
bicha. Em seguida foram em busca de Chico Preto. Encontraram Chico a meio
quilômetro dali. Raimundo já estava quase cego pelo veneno quando chegou lá.
Chico Preto colocou Raimundo em suas costas e o levou até a casa de Pedro
Ferreira. De lá enviaram logo alguém a cavalo para buscar seus pais, enquanto
os vizinhos acorreram para oferecer-lhe ajuda.
Vitória
estava em casa, mas Joaquim estava longe vendendo rapaduras. Já era meio dia.
Ela precisava de alguém para ir procurar o marido a fim de lhe contar o que
havia acontecido com Raimundo. O vizinho Matias, apesar do medo que sentia de
Joaquim e como se tratava de grande emergência, ele foi. Vitória deixou os
outros filhos sob os cuidados de visinhos e seguiu para São Pedro, com o
coração partido de dor e ansiedade. No caminho ela se lembrou das palavras de
Raimundo ao se despedir e lágrimas lhe escorreram pela face. Quando ela chegou
lá, o filho pedia água. Já eram quatro horas da tarde. A casinha estava cheia
de vizinhos e curiosos, os quais, ao saberem da mordida da cobra, haviam
trazido toda sorte de amuletos para amarrarem no pescoço ou perna de Raimundo,
na esperança de afastar os maus espíritos. Mas, água ninguém queria lhe dar.
Nas vilas do interior não havia antídoto para picada de cobra.
Matias
fez o que pode para encontrar seu antigo inimigo, indagando por toda parte se
alguém sabia onde ele estava. Finalmente ele, com revolver em mão e hesitando,
se aproximou de Joaquim. Considerando sua missão extremamente importante,
venceu o temor e informou a Joaquim sobre a tragédia com seu filho. Quando
Joaquim chegou, Raimundo ainda estava consciente. Ele pediu ao pai que lhe
cantasse um dos hinos que Patrício cantava, mas que pai, além de não saber,
como poderia cantar vendo o filho moribundo na rede? Joaquim estava abalado.
Ele amava seu filho e as lágrimas lhe escorriam livremente pelo rosto. Ele
chorava em silêncio.
O
irmão Antônio de dez anos apenas estava muito confuso com tudo o que
acontecera. Ele se lembrou das estranhas coisas que Raimundo lhe falara sobre
morte; ida para o céu; encontro com o Senhor Jesus. Raimundo lhe disse dias
antes que uma cascavel iria picá-lo. Ele havia gravado o nome de sua tia em um
jatobá grande, e o nome de sua mãe em outra árvore, como lembrança. E todas
aquelas marcas que Raimundo fazia num pedaço de madeira que trazia atado a
cintura significava um dia a mais que "Deus havia lhe dado neste mundo,
antes de levá-lo para si”. Todas aquelas coisas causavam confusão na cabeça do
pequeno Antônio. E ali estava seu irmão estirado na rede, tentando cantar
músicas de Jesus e pedindo a outros que cantassem. Ele não estava com medo de
morrer, pois sabia para onde iria.
A
casa continuava cheia de gente, alguns tristes, outros curiosos querendo ajudar
e o único meio que encontravam para demonstrar solidariedade era ficar por ali,
suspirando, sugerindo uma coisa ou outra que porventura curasse o menino.
Ficaram ali toda a noite. Duas horas antes do amanhecer tudo acabou. Raimundo
havia partido para estar com Cristo. Seu grande desejo de conhecer mais sobre o
Salvador pregado por Patrício estava agora satisfeito. Os vizinhos,
acabrunhados, dirigiram-se para suas casas para cuidar dos seus trabalhos. O
sol se surgiria logo convidando os periquitos para se banquetearem na roça e
quem estaria lá para espantá-los?
O
corpo de Raimundo foi levado para São Domingos em sua própria rede, conduzida
por dois homens e no mesmo dia foi enterrado. Nada mais parecia importar agora.
Nada poderia trazer Raimundo de volta à sua família. Toda esperança de felicidade
desapareceu da casa enlutada. Vitória tentava consolar seus filhos que se
agrupavam a seu redor: João tinha 12 anos, Antônio, 10. As irmãzinhas Raquel e
Carmosina entendiam muito pouco o que estava acontecendo a seu redor e Antônia
ainda era muito pequena. Abdoral, o bebê, carinhosamente tratado como Bibó,
completava a família enlutada. Todos careciam de afeição naquela hora e
Vitória, escondendo sua própria dor, cuidava ternamente destes filhos que tanto
amava.
A
prima Margarida sempre vinha visitá-los. A perda de Raimundo significara muito
para ela. Raimundo e ela haviam crescido juntos no conhecimento do amor de
Cristo. A perda havia sido irreparável, mas Margarida vinha mais para confortar
a família enlutada do que para buscar conforto para si. Ela era de grande
ajuda: ensinava-lhes hinos e ajudava também nas tarefas domésticas. Os poucos
crentes dali estavam sempre por perto ajudando a família, mostrando-lhe amor e
orando para que Vitória pudesse também procurar o conforto que somente Cristo
podia proporcionar. Vitória foi a primeira a aceitar Cristo como seu Salvador e
Consolador e a seguir, seus filhos mais velhos também se decidiram. Joaquim
nada dizia, deixava-se ficar pensativo. O choque da morte do filho fora grande
demais para ele. E se lembrava dos repetidos apelos que lhe fizera Walter, um
jovem missionário canadense que havia se hospedado em sua casa no começo
daquele ano, enquanto se recuperava de malária. Naquela época os ensinos de
Walter não lhe afetaram mais do que pedrinhas atiradas na couraça de um
rinoceronte. Mas, agora que Walter estava distante, em sua terra natal, suas
advertências ressoavam na consciência de Joaquim.
Raimundo,
seu filho mais velho com 14 anos de idade, estava morto. As lágrimas voltavam aos seus olhos com facilidade
e ele chorava convulsiva e incontrolavelmente. "Foi minha culpa; se eu não
o tivesse mandado para São Pedro, ele ainda estaria vivo. Por que!!! Se ao
menos...!!!" aí as palavras tropeçavam e morriam em sua garganta tão
apertada pela dor. Dia após dia se remoia de tanto remorso. Ele não encontrava
qualquer alivio para sua consciência culpada e nem conseguia esquecer.
Era
quarta-feira a noite. Joaquim pegou sua espingarda, sua rede e sua lanterna. Em
poucos minutos começaria a pequena reunião na casa do “Velho Bina” e ele não
queria estar presente naquela noite. Iria caçar ali por perto. Caçar veados era
seu passatempo favorito e lá se foi buscando algum consolo. Foi sozinho. Ao
chegar ao seu costumeiro ponto de espera, armou sua rede numa árvore alta, próxima
a um riacho onde os veados vinham matar a sede. Ali ele se deitou à espera.
Mas, as horas de agonia de Raimundo vieram-lhe à mente, bem como seu último
pedido ao pai. Joaquim desesperado sentiu lágrimas de remorso escorrendo pelo
rosto. Sua alma estava sombria como a noite que o cercava.
Mas,
que som era aquele que lhe chegava vagamente aos ouvidos? Era música, sem
dúvida! Era um hino que Joaquim havia ouvido várias vezes e cuja letra
sabia de cor: "És Tu, Jesus, meu Salvador, Por Ti eu tenho paz, Jesus a Ti
louvor darei, Pois tudo Tu me dás". O vento trazia a melodia que cantavam
na pequena reunião que ele quisera evitar naquela noite. A voz forte de
Patrício se elevava acima das outras; ele era o pregador da noite. As poucas
pessoas lá reunidas estavam felizes e gozavam de paz em seus corações. O Senhor
Jesus havia satisfeito suas ânsias mais profundas e por isso cantavam com tanto
gosto e amor.
Joaquim
se esqueceu de sua caçada. Descendo da árvore, ajoelhou-se, chorando
copiosamente e repetindo as palavras de outro hino que haviam cantado antes:
"Bem longe de Deus eu andava, Um pobre perdido fui eu; Pasmei que me fosse
possível, Obter minha entrada no céu." Com esta confissão, Joaquim
recolheu sua rede e carregando sua espingarda no ombro, já esquecido de sua
caçada, foi para a casa do velho Bina onde a reunião estava prestes a terminar.
Patrício o recebeu com sorriso aos lábios, enquanto Joaquim, com a voz
entrecortada de soluços, entregou-se a Cristo usando as palavras do hino que a
pequena congregação havia cantado.
Em
1922, Joaquim recebeu Cristo como Salvador e agora fazia parte do pequeno grupo
que se reunia em casa do velho Bina aos domingos e quartas-feiras.
Freqüentemente cantava hinos e dava seu testemunho na frente de todos. Em sua
própria casa ele dirigia a família nos cultos domésticos. Quanto não havia ele
aprendido em suas horas de dor! E agora estava na presença reconfortante de
Cristo. Ele agora sentia prazer em cantar hinos. Os bailes e a bebida perderam
o encanto que antes tanto lhe atraíam. Perrin Smith, sempre que podia, vinha
dirigir o pequeno grupo em estudos bíblicos e Patrício, freqüentemente,
visitava São Domingos.
Em
1928 a pequena igreja da vila foi construída bem perto da casa de Joaquim. Era
simples, mas era o orgulho de sua pequena congregação. As mulheres da
congregação ajudaram na construção carregando na cabeça os tijolos feitos a mão
e os homens se encarregaram de cortar as árvores na floresta para a madeira
necessária à construção. Essa madeira era transportada em carros de boi e
quando não havia boi, os próprios homens puxavam esses pesados carros até o
local da construção. O trabalho foi todo feito ao som de alegres hinos de
louvor. Foi um dia festivo e de ação de graças quando a pequena igreja foi
dedicada ao serviço do Senhor. Outros habitantes da vilazinha começaram a
freqüentar a igreja. Alguns movidos por curiosidade, outros impressionados pela
mudança operada no antigo responsável pelos bailes locais.
Joaquim
agora passava seus dias fazendo selas de couro ou trabalhando em sua pequena
roça. Ele testemunhava a todos que encontrava, convidando-os para as reuniões
na igreja. Todos os anos, por ocasião da lua cheia em junho, os crentes de São
Domingos iam para a convenção organizada por Perrin Smith em Barra do Corda,
levando consigo arroz, farinha e galinhas. Muitos tinham que caminhar vários
dias para chegar até lá. Carregavam seus burros com os jacás de mantimentos e
as crianças se escanchavam nas cangalhas. Todos aprendiam muito nestas
convenções anuais. Durante toda a semana havia estudos bíblicos, cântico de
louvor e adoração a Deus e cultos evangélicos. O congraçamento entre os crentes
de Barra do Corda e vilas circunvizinhas era edificante e precioso.
Anos
se passaram e em São Domingos Satanás não dava tréguas. Juntamente com alguns
outros crentes, Joaquim ainda tinha que aprender que sozinhos, contando com
suas próprias forças, eles não conseguiriam vencer o inimigo ou resistir às
tentações.
Alguns
crentes se deixaram abater pela apatia espiritual, negligenciaram a leitura da
Bíblia e tornaram-se alvos fáceis do inimigo. Não tinham aprendido ainda a usar
toda a armadura de Deus oferecida gratuitamente, com promessa de vitória, a
todos aqueles que cressem em sua Palavra.
Sentindo,
também esta apatia, certo dia, Joaquim orou fervorosamente para que Deus o
conservasse em seus caminhos, que não deixasse os seus passos se desviarem. E
esta se tornou sua prece diária, saída de um coração cheio de humildade. Em
1941, ele e sua família foram à convenção em Barra do Corda e muito benefício
lhes adviera dela. Havia sido uma semana de reuniões muito abençoadas, com
grande evidência da atuação do Espírito Santo para convencer a muitos dos seus
pecados. Joaquim foi um destes que, com humildade, confessou que havia se
tornado indiferente. Ele sentiu que havia desapontado a Deus, que havia
sucumbido à tentação. Ele fora enganado por Satanás em acreditar que desviar-se
da fé não é pecado. Apesar de ser um dos mais estimados ministros, que
eloqüentemente pregava na pequena igreja de São Domingos, ele havia se desviado
da fé. E por causa do seu testemunho pecaminoso muitos abandonaram a comunhão
com o Senhor.
Naquela
convenção os pregadores, dedicados homens de Deus, pregaram sobre a importância
de um bom testemunho, segurança de salvação, afastamento do pecado, o cuidado
do corpo como morada do Espírito Santo, entre outras verdades bíblicas. Para
muitos que observaram as verdades das Escrituras foi restaurada a alegria do
perdão (I Jo 1:9). Joaquim e muitos outros voltaram a andar nos caminhos do
Senhor, com corações agradecidos, orando constantemente para que Deus os
mantivesse fiéis.
Naquele
mesmo ano alguns estudantes do Instituto Bíblico construíram uma pequena casa
de palha para os que quisessem um lugar calmo onde pudessem orar durante a
semana de reuniões. Este local era freqüentemente usado por aqueles que oravam
pelos crentes desviados ou pela salvação daquelas pessoas que haviam sido
convidadas para as reuniões. Ao passar por aquele casebre era comum se ouvir a
voz de alguém orando por avivamento. Tarde da noite ou pela madrugada sempre se
podia ouvir pessoas orando. E Deus ouvia aquelas preces, pois naquela semana o
poder do Espírito Santo se manifestou através das mensagens pregadas.
Joaquim
e Vitória ainda viveram por mais de vinte anos testemunhando sobre o que Cristo
havia feito em suas vidas. Muitos foram retirados das trevas para sua
maravilhosa luz. Alguns de seus filhos foram estudantes no Instituto Bíblico,
tornando-se também testemunhas fiéis do Senhor. Abdoral, o caçula, que só tinha
dois meses de idade quando Raimundo morreu tem servido a Deus ao longo de sua
vida.
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