(Livro em construção)
CONTINUAÇÃO ...
1.2
Vida e Obras de Perrim Smith
“O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês,
de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus. (Fp 4:19)”
Ele
era ainda muito jovem quando seu pai, John Smith, faleceu deixando apenas uma
viúva, três filhos e como herança, muitas dividas. Sendo Perrin o filho mais
velho, teria que assumir total responsabilidade sobre sua família. E como tinha
grande facilidade com os negócios logo liquidou a dívida e melhorou a situação
da fazenda comprando gado de raça e outros animais. Também fez outros valiosos
benefícios.
Mesmo sendo o responsável direto pela família e bens, tinha outro
ideal e aos poucos foi preparando o irmão Dugal para assumir seu lugar, pois
pretendia sair do Canadá e ir para a América do Sul, mais especificamente
Argentina, onde a irmã e o cunhado viviam como missionários. Chegou lá em 1903
e pretendia seguir o mesmo caminho, pois estava convicto das necessidades
espirituais daquele povo. Estudando a vastidão do Continente Sul Americano,
percebeu que os três não deveriam ficar no mesmo lugar, mas que procurassem uma
maneira de tentar cobrir toda área carente.
Ele optou pelo Brasil. Após
percorrer boa parte dele chegou a São Luís - Ma. Ao ouvir sobre a maneira como satanás escravizava o povo do interior do Estado através da idolatria feitiçaria e superstições, não teve dúvidas de que as trevas ali eram densas e
que precisava urgente da luz do Evangelho. E, certo do chamado divino, partiu
para o interior do Maranhão como missionário.
Campo Missionário
O fim da
viagem, numa lancha, foi numa pequena cidade chamada Grajaú. Alugou uma casinha
de palha e para pagar o aluguel trabalhava como fotógrafo. Enquanto ia a busca
do próprio sustento, aprendia o português e apresentava Cristo como Salvador às
pessoas. Logo começou a ver os frutos do trabalho, pois alguns aceitaram a
mensagem.
Sentindo a necessidade de passar mais tempo com os novos decididos
para ensinar-lhes sobre a Bíblia e a comunhão entre irmãos, alugou um salão que
servia de templo. Mas, não se limitou ao trabalho na cidade. Sempre que podia
viajava para o interior levando a mensagem do evangelho.
Por ser um
homem sozinho, passava muitas privações e não se alimentava bem. Isto o estava
enfraquecendo, pois a labuta era grande. Levou aquela necessidade diante de
Deus que logo respondeu mostrando-lhe uma moça, fruto de seu trabalho
evangelístico, que seria sua companheira. Ana Tavares de Bastos também não
tinha dúvidas de que Perrin era o homem escolhido por Deus para seu esposo.
Smith agora tinha alguém com quem dividir suas alegrias, problemas, vitórias,
como também uma auxiliadora tanto no lar como nas viagens evangelísticas.
Sempre que
chegava a um interior encontrava alguém disposto a lhes oferecer a casa como
hospedagem e também como ponto de pregação, mesmo não sabendo do que se
tratava. A noite montavam o velho órgão de fole que sempre carregavam. Cantando
e tocando atraiam a atenção dos moradores. E quando já havia um bom número de
ouvintes curiosos ele lia a Bíblia e apresentava o Caminho da Salvação. Muitos
foram salvos e ali mesmo o Sr. Smith formava um núcleo de oração e estudo da
Palavra, livro até então desconhecido.
Durante as
viagens receberam do Senhor a primeira filha Any, que veio aumentar a
responsabilidade do casal, mas também proporcionar grande alegria, pois era uma
bênção do Senhor. Eles não tinham um lar fixo. A maior preocupação era cobrir o
máximo possível de lugares com a pregação do evangelho. Estavam constantemente
sob o sol equatorial, ou sob chuvas torrenciais; expostos a noites frias,
úmidas e mal protegidos a mercê das doenças que eram perigosas para adultos e
fatais para crianças.
Foi nestas
circunstâncias que Any, com apenas dois anos de idade, na Cidade de Imperatriz,
contraiu malária que em pouco tempo a levou para o seio do Senhor. Aquilo
trouxe grande tristeza aos pais. Muitos estavam interessados e curiosos para
ver como se processava o enterro de uma filha de missionário crente, bem como o
comportamento dos pais. Perrin, confortado pelo Senhor, soube superar o momento
e, mesmo chorando interiormente, realizou dois cultos, um ainda em casa
incluindo cânticos e pregação da Palavra e o outro já no cemitério onde fez
outra leitura e oração.
Não se controlando mais, enquanto descia o pequeno
caixão a cova, também descia de seus olhos as lágrimas de um pai que acabara de
perder a única filha. Mas, logo se conformou com a promessa divina de que um
dia todos estariam juntos na glória e que melhor é estar presente com o Senhor
(II Co. 5:3). Isto não os fez
desanimar da obra missionária. Certamente teriam outros filhos e seriam
responsáveis por eles.
De volta de
suas férias no Canadá, Perrin e Ana Smith pediram a direção de Deus e sentiram
que Barra do Corda era o lugar para onde Ele os estava enviando. Ao chegarem lá
foram bem recebidos por todos os crentes frutos do trabalho de João Batista.
Ali Perrin
escolheu um lugar afastado da Cidade porque queria criar os filhos sem a
influência maléfica daquele povo tão idólatra e feiticeiro. Com o pouco
dinheiro que restava comprou uma área de terra e construiu uma casinha coberta
de palha. Adquiriram a primeira vaquinha a fim do terem o leite para alimentar
a família.
Recompensas pela Fidelidade
Após alguns
anos de fidelidade ao Senhor e perseverança no trabalho, começaram a ver as
recompensas. Milagrosamente seu gado, aves
e outros animais aumentavam. Também, na plantação foram abençoados e com o
produto podariam suprir as necessidades de Barra do Corda com uma população de
mais ou menos quatro mil habitantes. Aquela humilde casa coberta de palha agora
se transformou numa casa grande onde todos poderiam viver bem acomodados e
livres de perigosos bichos que vez por outra invadiam a rústica residência.
Deus os havia
provado dando-lhes cinco filhos e levando-os para Si. Agora, também, pela
fidelidade de aceitar tudo como soberana vontade de Deus, receberam do Senhor
mais oito filhos. Deram àquele lugar o nome de Vila Canadá. Ainda hoje existe
esta Vila em Barra do Corda e nela funciona as Instalações do INCRA. A Casa
Grande é hoje um museu dos Smith.
Apesar de
alguns cordinos não admirarem a “nova religião” que Smith pregava, eles o
admiravam muito, pois o tinham como bom amigo, homem responsável e alguém que,
com o produto de sua fazenda, supria suas
necessidades materiais.
Muitas vezes
ao pregar o evangelho nas reuniões normais num salão no centro da Cidade, era
atacado por pedradas vindas de pessoas inimigas, mas Deus sempre o protegeu e
nunca foi atingido por elas. Durante os batismos realizados no Rio Corda,
desordeiros o ameaçavam com armas. Ele
parava, orava ao Senhor e pela Sua intervenção tudo ficava calmo e então podia
realizar o batismo a vista de todos. Outros, como pessoas influentes e
autoridades da Cidade, não encontrando nele algo que o incriminasse,
lançavam-lhes acusações fortes. Uma vez sequestraram um de seus funcionários
que estava sendo cuidado em casa por D. Ana.
Ele havia sido ferindo no pé com
um instrumento de lavoura. Os sequestradores acusaram os Smith de terem
assassinado e jogado o corpo do funcionário no rio. Não tendo como provar sua
inocência, Smith foi recolhido ao cárcere como assassino. Isto provocou grande
tumulto em Barra do Corda e muitos afluíram para a cadeia local, onde ele
estava preso. A população pedia às autoridades que o libertassem. Ali mesmo em
meio a tais circunstâncias o Sr. Smith apareceu na janela da cela e, como nunca
vira tanta gente junta aproveitou para apresentar Cristo a todos. Coisa que
seria impossível acontecer numa reunião normal, pois eles jamais iriam a um
culto.
Quando terminou o sermão, tendo pregado para quase toda Barra do Corda
de uma só vez, verificou que as portas da prisão estavam abertas e ele foi
liberto. Como resultado daquela diabólica trama o Delegado perdeu o posto e o
prestígio de Smith aumentava cada vez mais. Depois de algum tempo soube notícia de que aquele funcionário estava vivo e sendo tratado em outra cidade.
Mas, nunca soube como ele, não podendo andar, chegou até ali.
Mas, nada disso
fez com que esse servo do Senhor se calasse. Quando saiu de Barra do Corda para
morar em São Luís
e depois em Belo horizonte, deixou muitas pessoas salvas e Congregações
organizadas. Nunca tomou para si a glória, pelo contrário a deu para quem de
fato era dono, Deus. E quando alguém lhe perguntava pelo número de convertidos
e Congregações deixadas durante os 50 anos de ministério no Brasil ele
simplesmente respondia: ”Não sei. É Deus quem guarda os livros de registros”.
A Despedida do Servo
No dia 16 de
março de 1955, antes de completar 80 anos de idade, com passagem aérea para São
Paulo onde deveria participar de uma Conferência Bíblica, o Senhor o chamou
para Si. Ele se foi, mas deixou um grande exemplo de alguém que, sem sustento
financeiro, enfrentou todos os perigos de um país distante e diferente do seu.
Fez isto por amor aos perdidos e obediência à ordem de Deus, crendo que Deus
supriria todas as necessidades. E Deus supriu, não só as suas, mas de muitos
que o cercavam.
Apesar de
todos os sofrimentos e perseguições, ele não considerou nada como ruim, pelo
contrário, dava graças a Deus por ser achado digno de sofrer pela causa de
Cristo.
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